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segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A Garota Ideal


A Garota Ideal é o tipo de filme que você vai assistir pensando que é uma comédia pastelão daquelas bem idiotas e na verdade é um drama psicológico com ótimas interpretações. Bem melhor do que eu esperava, na verdade. Domingo de frio de chuva, só podia ser filme mesmo para passar o dia, e fiz a escolha certa.
Ryan Gosling, que é o protagonista, está perfeito no papel de um moço tímido do interior, que tem problemas de relacionamento com todos ao seu redor, inclusive com seu próprio irmão. Mora na garagem da casa da família e se recusa a ter contato muito próximo com as pessoas, e até o toque dói, segundo ele. É um sacrificío até para ele tomar um café da manhã com o irmão e a cunhada.
Até que um dia, sem mais nem menos, Lars ( o personagem de Gosling) chega na casa do irmão e diz que tem uma novidade, que está tendo um relacionamento e que a garota chegou a pouco dos trópicos.
Esperançosos, o irmão e a cunhada preparam um jantar, e se chocam ao perceber que a namorada de Lars é uma boneca sexual tamanho grande comprada por um site na internet. Lars conversa com a boneca como se ela realmente estivesse ali, fosse real. Mas como disseram no filme "ela é real, ela só não é humana".
Até aí o que eu pensava ser uma comédia acaba virando um drama, pois o filme puxa o telespectador para dentro de Lars, de seu delírio com a boneca e como ele conduz todo o relacionamento de mentira. Ele criou esta garota "metade brasileira, metade dinamarquesa", segundo ele, e a trata como se ela realmente existisse.
O casal ( irmão e cunhada) logo o levam à médica para que ela trate dele, como se estivesse tratando de um problema na pressão arterial da boneca ( cujo nome é Bianca). Enquanto a Bianca se submente ao ficctício tratamento, Lars fica conversando com a médica e aos poucos expondo mais sua vulnerabilidade e mostrando como a solidão pode fazer com que o ser humano cometa delírios deste tipo.
O que mais me chamou a atenção na história foi como o irmão e a cunhada se empenharam em tratar a boneca como um moça de verdade, e como Lars era muito querido na cidade, todos também começaram a tratar a boneca assim, até trabalho como missionária ela arrumou.
Todos faziam de tudo para que ela se sentisse em casa, e neste interim Lars ia conduzindo todo o relacionamento com a boneca, se libertando das amarras, crescendo e amadurecendo.
Achei o filme de uma sensibilidade incrível em tratar de um tema que poderia ser estranho de maneira tão sutil, e palmas vigorosas para Ryan Gosling, que está perfeito no papel, sem comentários. Assistam.
beijocas

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Não verás país nenhum


Tirei férias da pós, aliás, volto hoje à ativa, e também tirei férias do blog. Vários contratempos me afastaram do meu prazer quase que semanal de devanear sobre meus encontros com as artes. Eis me aqui novamente com uma pauta imensa e sem saber como começar.
Acho que vou falar da minha experiência com o Não verás país nenhum, de Ignácio de Loyola Brandão, escritor brasileiro que criou esta excelente obra de ficção, mas que se você ver bem, nem é tão ficção assim. O livro perturba, constrange, mexe na ferida, incomoda.
Eu fiquei muito afim de lê-lo há uns dois anos atrás, quando o escritor participou de uma feira do livro aqui na cidade e assunto em pauta do seu Salão de Ideias foi apenas este livro. Aí eu ia entrar de férias em dezembro, aproveitei para comprar o livro em um sebo por R$ 5.
Beleza, comprei o livro e ele permaneceu lá paradinho por quase dois anos, que dó. Fui passando outras leituras na frente e ele foi ficando.
Agora em julho resolvi acelerar minha estante empatada de livros adquiridos e não lidos, e para isso dei um tempo de visitar as bibliotecas. E não é que me apaixonei por este livro logo na primeira página, e em vez de ler rápido, como costumo fazer, para não perder tempo e começar a ler outras obras, me surpreendi enrolando para virar cada página, só para não ver o livro terminar.
Ele conta a história de um homem vivendo em meio a uma São Paulo futurista, o caos que a cidade e o planeta se tornam, as dificuldades para se conseguir água potável e comida, o problema do lixo, que não tem mais lugar para ir, o calor insuportável, que faz todos transpirarem o tempo tempo, a política corrupta, o sistema de divisão de classes, etc, em meio a isso os problemas sociais e de relacionamento entre as famílias e os casais, como acontece com o próprio personagem principal, um professor de história aposentado que vive questionando o novo mundo em que vive.
O livro é de uma veracidade gritante e alarmante, e complemente atual. É como citei no twitter, é um livro para se ter, ler e reler, e prestigiar o talento de Brandão para a literatura.
Fiquei até mal por ter demorado tanto com este livro, mas valeu a pena, e agora poderei relê-lo assim que quiser.
Eu se fosse você faria o mesmo. beijos