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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Apenas uma vez



Apenas uma vez (Once), de John Carney é um filme fofo, como comentou meu professor antes de mostrá-lo. Quando ele disse isso fiquei apreensiva, pois romance não é meu gênero favorito. Logo de cara, com a capa do DVD e as primeiras imagens, já notei que terei mais música do que talvez eu pudesse suportar. Amo musicais, mas quando tem muita música e atores cantando ( às vezes sem muito talento para a coisa) me desanimam.
Devo confessar que me surpreendi, que bom né. O filme é muito bem feito e delicado, e conta a história de um rapaz que é músico nas horas vagas pelas ruas de Dublin e ajuda seu pai consertando aspiradores de pó. Ele conhece uma moça tcheca nas ruas e descobrem que têm em comum o gosto e talento para a música.
Ele toca violão e compõe, e ela toca piano. A partir daí, os dois tornam-se amigos e fazem parcerias musicais, ela o ajuda a gravar um CD numa gravadora, pois acredita no talento dele.
Até aí parece óbvio que vai surgir um romance entre os dois, mas o filme é muito mais do que isso.
Ambos, apesar de estarem muito próximos e compartilhando o amor pela música, possuem um passado do qual não conseguem se desprender. Ele sofre de amores por uma mulher que o traiu e foi para Londres e ela deixou o marido na República Tcheca. Interessante como eles se respeitam e se ajudam, e passam por cima do desejo que sentem para reconstruir suas vidas separadamente. É aquele tipo de história de amizade fraternal em que eles passam um período juntos, aprendem um com o outro e seguem seu rumo, mas mantém as marcas de cada um na sua vida, como uma mudança positiva e fundamental. A pitada da cereja que faltava.
No decorrer do filme, as canções são tocadas a todo momento e são a base que move a história. O ator que interpreta o Cara é o músico Glen Hansard da banda The Frames, e a Garota é Markéta Irglová, ambos inexperientes no cinema mas demonstraram muita segurança nos papéis.
A fotografia do filme nos mostra a Irlanda urbana, é um descanso aos olhos das ruas hollywoodianas.
Tecnicamente falando, o filme foi feito com uma câmera digital e parece ser documentário em alguns momentos, pois ele dá a impressão de ter sido feito com a técnica "câmera na mão", um tom de realidade com as irregularidades das imagens.
A trilha sonora é fantástica. O filme é realmente muito fofo. Vale muito a pena, recomendo.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Watchmen - Existencialista e humano


Nunca fui muito de ler quadrinhos, sempre achei que era coisa para menino. O único que eu comprava às vezes era o nacional Turma da Mônica, e olhe lá. Por ser uma apreciadora da sétima arte, sempre conheci os quadrinhos através da telona, nas adaptações nem sempre tão fiéis para o cinema.
Este tipo de filme também sempre fica em segundo plano, principalmente as adaptações dos quadrinhos Marvel. Sei lá, gosto é gosto, mas mesmo que demore, eu sempre vejo.
Essa introdução toda é para contar que vi o Watchmen e simplesmente adorei. É claro que como todo bom filme americano de quadrinho que se preze, há aquela velha dicotomia EUA x Mundo ( leia-se russos, chineses, japoneses, árabes, sei lá....), ou seja, os americanos são os bonzinhos, todo mundo quer destruir a América e os super-heróis ( claro, que são americanos) vão salvar o mundo.
Até aí, beleza. Mas o filme tem uma produção de arte muito bem feita, com trilha sonora que casa perfeitamente com cada momento, mesmo na cena inicial quando uma luta é travada ao som de Unforgettable. As cenas que denotam o passado no início do filme dão um toque retrô à produção, e conta rapidamente, mas com esmero, a história da época de ouro dos Watchmen.
Quem espera ação do começo ao fim vai se decepcionar, pois a batalha é psicológica, mais que tudo.
Conforme o filme vai se desenvolvendo, você percebe que não se trata de uma simples produção de guerras e "vamos salvar o mundo", apesar de ter essa mesma linha.
Mas quando os heróis estão tentando salvar o mundo, percebi que eles estavam tentando salvar a si mesmos. Eles sofrem conflitos humanos e existenciais como todos nós, e travam uma batalha ética e moral consigo e com os outros o tempo todo. Cada característica pessoal do personagem não deixa de ser um reflexo da sociedade, como a psicose de Rorscharch ou o cinismo e sadismo do Comediante e busca da identidade de Jupiter.
O filme é muito filosófico e testa nossa capacidade de discernimento da realidade o tempo todo, como se no fundo todos fôssemos super-heróis de nós mesmos e ao invés de salvar o mundo, estamos acabando com ele. "Vale matar milhares para salvar bilhões?", é um dos questionamentos do filme. "homens são presos, animais são mortos" também.
Podemos ver claramente que por trás daquela roupa de lycra também bate um coração cheio de conflitos e buscando se encontrar, como todo mundo.
A história traz reflexões sobre a condição humana, a ética, a nossa parcela de culpa em ser o que somos e viver bem só depende de nós, mas segundo o filme, nós não queremos isso. O ser humano está se definhando aos poucos, em todos os sentidos.
Além do caráter psicológico, o filme vai fundo na questão geopolítica do período, 1985, quando o mundo vivia a iminência da Guerra Fria, e um ataque nuclear entre as duas potências mundiais era esperado a qualquer momento.
Vale muito a pena as 2h43min de filme. Mas não vá esperando muito ação, pois a palavra de ordem deste filme é reflexão.
Acho que vou até comprar a revista. O filme me deixou querendo saber mais.
beijos