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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Não entendo quem não gosta de ler

Hoje é o Dia do Livro. Não entendo como alguém consegue não ler, não gostar de livro, ou diz até gostar mas alega não ter tempo para ler.
Não entendo como essas pessoas não gostam de ter um companheiro à cabeceira todos os dias, não gostam de viajar o mundo sem sair do lugar, não gostam de acompanhar várias aventuras e conhecer outras culturas.
Não consigo entender que as pessoas arranjam tempo para beber uma com os amigos, visitar conhecidos, ver televisão de domingo, cochilar, fazer academia, trabalhar, passear com os cachorros, cozinhar, ficar horas na internet, bater papo no telefone, jogar videogame, ficar na calçada olhando para o nada e só  ver a vida dos vizinhos, mas nunca encontram tempo para ler.
Não entendo as pessoas que não querem conhecimento, discernimento, sabedoria, cultura, boas histórias, explicações do mundo ou apenas crônicas do cotidiano.
Nunca vou entender quem não consegue se prender a uma bela história, que não consegue virar as páginas, que não gosta daquele cheiro afrodisíaco e viciante que só as folhas de um livro são capazes de trazer.
Nunca vou entender quem se contenta com o pouco, acredita no que vê e não se atreve a abrir um livro e encarar o desconhecido.
Nunca vou entender quem nunca leu nada, mesmo que não saiba, sempre tem alguém que pode ler em voz alta.
Nunca vou entender a falta de curiosidade pelo antigo, pelos mistérios que envolvem nossa existência, pelos pergaminhos, pelos papiros, pelos códices. Nunca vou entender quem não sente imenso remorso pela destruição da Biblioteca de Alexandria, e quanta cultura e conhecimento de séculos se perdeu.
Nunca entenderei quem nunca leu uma poesia, nunca escreveu uma crônica e nunca sentiu culpa por saber que nunca dará conta de ler todos os livros que há no mundo.

sábado, 23 de outubro de 2010

Casamento Silencioso é uma obra de arte do cinema romeno

Depois de mais uma temporada de abandono do blog, volto e prometo pra mim mesma, pela milésima vez, voltar a escrever com mais freqüência, quem sabe agora com mais tempo.
Eu não poderia deixar de comentar um filme muito bom que assisti ontem. Casamento Silencioso é uma produção de 2008 dirigida por Horatiu Malaele, entre a Romênia, Luxemburgo e França, e conta a história de um vilarejo pacato da Romênia de 1953, em que famílias se adaptam ao pós-II Guerra e a nova ordem mundial da Guerra Fria. Políticas à parte, as famílias só querem tocar suas vidas e ter paz e tranqüilidade.
Tanto que os mais jovens só pensam em namorar as filhas das vizinhas. E um desses namoros vira casamento, o que dá título ao filme. No meio da festa do casamento de Nara e Iancu, quando estão todos preparados para oficializar a cerimônia, aparece um oficial russo e decreta luto oficial e proíbe no país qualquer tipo de manifestação popular, festas, sorrisos, casamentos e até velórios por uma semana. Silêncio absoluto. Porquê? Isso aconteceu em 5 de março de 1953, data da morte de Stálin, o líder da União Soviética (que comandou a Romênia da Segunda Guerra Mundial até a Queda do Muro de Berlim). Ou seja, Stálin morre e o povo romeno foi obrigado a silenciar-se.
Mesmo com o decreto, as pessoas do vilarejo não querem deixar passar o momento tão importante para o casal. Então, de forma improvisada, realizam o casamento silencioso dentro da casa da noiva, sem ruídos, sem falas. É como se o diretor quisesse mostrar como viviam os romenos nessa época, de mãos atadas e bocas fechadas.
Demorei tanto para ver o filme que me arrependi de não ter visto antes, pois os 87 minutos são curtos mas certeiros, e o diretor usa diversas metáforas para contar como reinava a lei do silêncio. De forma cômica e um tanto esdrúxula, conseguimos entender o que essas pessoas passaram anos atrás. A sensibilidade do diretor foi responsável por uma das cenas mais memoráveis do cinema, duas na minha opinião, a do casamento silencioso em si e da aparição, com recursos visuais que lembraram muito o cinema fantástico de Meliés.
Claro que não vou detalhar as cenas, pois seria injusto com quem não viu o filme, mas vale muito a pena ser visto. Me contem depois o que acharam.
Falta só um mês para eu entregar meu TCC e minha vida voltará ao normal, com dicas diárias, se possível, mas por enquanto, vou escrevendo sempre que der, ou sempre que tiver uma obra de arte tão refinada quanto este filme para comentar.
Parece que o cinema romeno está com tudo, e agora o próximo passo é assistir Como eu Festejei o Fim do Mundo, produção do mesmo país. Eu conto depois.
Beijos e bom fim de semana.